guincho.txt


Atirei uma moeda ao ar; numa camada de bronze circular e em melhor inspecção os seus ornamentos e linhas lembravam, soltando a imaginação, ravinas escavadas por um rio como num vale ribatejano onde incide um sol de Outono. Vejo-a rodar no ar antes de a apanhar na palma da mão que fecha o destino do “cara ou coroa” que me levou a escrever isto… quase um ano passado desde que o mesmo gesto nos trouxe juntos.
Aqui nos vejo agora, apenas em palavras, tão distantes, deixando a cidade deserta para nela me perder sozinho. Perdi sozinho, perdi-te a ti, parece-me ainda que me perdi de mim.
Esperei nove horas por ti no Guincho, a praia onde tudo te reflecte: a tua
inocência tal maré que baixa a arrastar as conchas até ao profundo azul.
A serra terminada pelas nuvens carregadas com a tua melancolia e
lirismo e os tons verdes da encosta a desaguar no azul encoberto do
céu, as ondas que chocam com a serra libertam-se em lágrimas na
tua face com a dor do amor. A traição do destino pesa, no coração e nos ombros, traição essa que é o tempo e a tua ausência.
Põe-se o sol na cidade e as ruas estão desertas, misturam-se na penumbra e o meu olhar vira-se para o oeste, onde tu danças com as sombras com os pés descalços na Areia, livre e com o cabelo em chamas da cor do pôr-do-sol no Guincho.
Até um dia,
Beijinho do Vasco, Sexta-Feira 13Julho 2018