Bambu
Olá Abigail,
Hoje vieram meter mais terra no meu vaso, deitaram-na com as palmas da mão e suavemente espalharam no meu corpo essa terra humída e adubada que assentou e tão bem me assentou.
Devem ter reparado que estou a crescer, as minhas folhas pontiagudas estão tão apaixonadas pelo Sol que dá ideia de quererem só para elas o amor e a luz reservado à Lua; as minhas raízes corajosas aventuraram-se e penetrando fundo pintaram o mapa do meu mundo e já brotam para fora do vaso para explorar o Universo exterior como verdadeiros astronautas; as minhas vizinhas Filó e Crassula encorajam e aplaudem a cada novidade: um novo vaso, um novo ramo, uma nova folha.
A Deusa Gaia está contente, aparece nos meus sonhos (os sonhos das plantas são sempre recorrentes e cada noite dura o equivalente a 7 noites para os humanos), promete-me as flores que um dia vou ter.
Mais terra;
As raízes afundam mais; agora o vento já não me abana tanto, agora o Sol já não queima tanto, agora as noites já não friam tanto.
Mais terra;
Essa mão delicada que me deita terra é a mesma que me mata a sede, a mesma que todas as manhãs abre os estores e as precianas da janela para meu deleite; a mesma mão que um dia mais tarde vai agarrar no meu tronco, sentir-lhe a textura, admirar-lhe a grossura.
A mão que deu vida e a quem eu vou dar todo o que sou.
A tua mão Abigail.
Beijinhos.